segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Não é vandalismo, isso é revolta



A você que acha que a quebradeira dos manifestantes é ilegítima e ato de vandalismo, algumas palavras:
Primeiro temos que diferenciar revolta de vandalismo. Quebrar com ideologia é revolta, sem ideologia é vandalismo.

Em segundo lugar, a maior reivindicação é pelo direito a voz. Vivemos uma sociedade aonde a voz política de uma pessoa tem ligação direta com as suas posses. A grande luta de classes dos nossos dias, como diz Zizek, é conscientizar a classe média de que ela é que é a grande representante popular, posto que é a maior parte da população. A classe média é explorada pela burguesia, detentora dos meios de produção e do capital, representada pelas grandes corporações. No entanto, costuma se abster de se posicionar politicamente contra a alteridade do mercado por possuir um relativo poder de consumo e acreditar que pode alçar vôos mais altos - nao pode e nao vai. Nesse sentido, a classe média deve abrir os olhos e os ouvidos e perceber que apenas ao se unir às camadas mais populares da sociedade é que podemos conquistar mudanças.

Em terceiro, o que vai direto ao ponto, é que essa voz política que vem sendo reivindicada nas ruas nos vem sendo negada. É ilusão achar que o Poder Público quer negociar conosco - nossas reivindicações estão expostas, são dadas. Queremos o fim das remoções forçadas; o fim das licitações e contratos públicos escusos e obscuros que financiam amigos do governador, do prefeito e outros políticos; queremos transparência das contas públicas, inclusive das obras da copa e dos contratos de concessão de transporte público; queremos a desmilitarização da polícia, que vem nos reprimindo brutalmente nos últimos 40 dias, mas que mata nas favelas há anos!

A falácia dos governantes de que querem um líder para negociar é conversa pra mídia e pra inglês ver. Se querem negociar, que comecem ouvindo os gritos das ruas. Nossos gritos, infelizmente, são abafados e quebrar patrimônio público, bancos e ferramentas das grandes corporações é a forma de nos fazer ouvir.

Se a galera tivesse a chave da ALERJ, ninguém tentava entrar a força, mas nao temos, nao é verdade?

Os manifestantes que quebram e incendeiam com ideologia nao estão justificando seus erros pelos erros dos outros simplesmente pq nao estão errando. Estão mostrando sua revolta e reivindicando seu direito a voz. Não há nada de errado nisso. Se o Estado ouvisse ao invés de reprimir, nada seria quebrado - tanto é que nos atos em que não há repressão policial não há quebradeira.

"E isso justifica a atitude?" - sim, justifica. A população é explorada e tem sido removida de suas casas de forma anti-democrática e sem que sejam chamados ao diálogo - não podemos nos iludir, não há espaço para conversa. A grande luta política do momento é pela VOZ - o povo reivindica que sua voz política seja ouvida no mesmo tom e com a mesma seriedade que a voz da elite hegemônica. O Governo não ouviu até hoje, a atitude é justificada para chamar a atenção dos governantes. A CULPA de todo o quebra-quebra é do Governo, que se recusa a tomar atitudes democráticas
"Uma agência não é o Banco" - o que é o banco, então? Uma pessoa jurídica virtual e sem representatividade física? As agências representam a empresa - é a representação do todo pelas partes. O alvo foi escolhido adequadamente.
"Mas prejudica os trabalhadores, a população" - já fui bancária e posso falar de dentro que o que prejudica os trabalhadores do banco é a política de exploração predatória da Corporação contra seus funcionários. Enquanto coadunarmos com a exploração e a dominação, os trabalhadores estarão sozinhos na luta. Temos que ter a consciencia de classe de entender que a opressão imposta ao outro também me será imposta.

A Luta de Classes da atualidade, como defende Slavoj Zizek, é a luta pela conscientização da classe média. A classe média precisa perceber que é a maior parte da população e é a parte da população que é explorada e não tem acesso aos bens de consumo que apenas uma pequena elite tem. Como nós da classe média temos acesso a ALGUMA parte dos bens de consumo, tendemos a ficar inertes a isso. Nós, classe média alta, principalmente. Mas precisamos perceber que estamos sendo explorados pela menor parcela da população, que é uma elite que não tem obstáculos nenhum ao consumo (e, portanto, à cidadania, pois vivemos hoje numa SOCIEDADE DE mercado, quando o que deveríamos era ter uma ECONOMIA de mercado - percebem a inversão dessa lógica?!)
"precisamos incentivar o consumo, a publicidade é um incentivo" - O consumo deve, antes de tudo, ser acessível a TODAS as camadas da população. Estamos sendo egoístas quando não percebemos que 1) somos poucos os que podemos consumir tudo que se anuncia; 2) classe média, como eu disse anteriormente, não goza de todo esse poder aquisitivo que anuncia não.

Faz parte da ideologia perversa capitalista incentivar o consumo e propagar que basta trabalhar para ter chance de alcançar aqueles bens. Isso é falácia! Não existe igualdade de oportunidades na sociedade e quem mais trabalha é quem menos consome.

As propagandas nos bombardeiam com estilos de vida e não apenas com produtos. Servem para criar o sentimento de inadequação naqueles que não conseguem consumir e alcançar aquele estilo de vida, o que é cruel, torturante e desumano. Repito: a SOCIEDADE deve ser HUMANA e pode ter uma ECONOMIA de MERCADO. Ao invés disso hoje vivemos numa SOCIEDADE DE MERCADO, em que se priorizam as corporações, o lucro e o faturamento de alguns poucos, em detrimento da saúde e cidadania de MUITOS.



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