quinta-feira, 1 de agosto de 2013

22/07/2013 BeijATO

[Ato no Rio de Janeiro BeijATO no Largo do Machado e no Palácio Guanabara por ocasião da visita do papa e JMJ (2013.07.22)]

O BeijATO de 22/07/2013 foi lindo. 

A ideia era ir até o Palácio da Guanabara as 17:30, mas alguns grupos estavam ainda chegando e tomou-se a decisão de fazer o beijaço nas escadas da igreja do Largo do Machado, pois daria tempo dos grupos que ainda chegavam até as 18:00 chegarem e também já teriamos feito o beijaço caso a polícia começasse a atacar. 
Ninguém entraria na igreja, o beijaço nas escadas seria simbólico – we`re here, we`re queer, deal with it. Fomos às escadas e ali chegamos as 17:39. Fechávamos o trânsito, éramos milhares. Havia pressão para sairmos logo, estávamos “incomodando” a JMJ, os policiais e o trânsito. Não queríamos sair, eles nos incomodam diariamente – incomodávamos de volta. 

O beijaço seria as 18:00, mas a galera não se aguentou. As 17:53 duas meninas de seios desnudos e torso pintado se agarraram nas escadas e começaram a se beijar. “BEIJA PESSOAL, BEIJAR É LINDO! EU BEIJO HOMEM, BEIJO MULHER, EU VOU BEIJAR QUEM EU QUISER” gritavam pelo megafone. Todo mundo se beijou. Enqto nos beijávamos, uma horde de vândalos da JMJ gritava “ave maria, cheia de graça, o senhor” - velho na boa, exorcisem o demonio de seus corpos hipócritas que condenam a homossexualidade, mas trepam inconsequentes até o amanhecer sem ser casados e com camisinha. Crença cristã conveniente de cu é DILDO.

Seguimos. Seguimos pela Rua das Laranjeiras ate a Pinheiro Machado. A Rua das Laranjeiras era nossa. LINDA, colorida, cheia, gente gritando e se beijando. Éramos milhares! Chegando à Pinheiro Machado, outro grupo já nos esperava. Paramos à altura do clube de futebol que ali se instala. Haviam fileiras e mais fileiras de policiais do choque e da pm armados. As primeiras fileiras com escudos e cacetetes, as segundas com escudos e armas de bala de borrcha, mais atrás, armados com fuzis e outros segurando cachorros. A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro demonstrava seu potencial bélico e sua força. E não foi por menos.

Assim que o helicóptero do papa alçou voo e saiu de cena, explodiu a confusão. Já foi provado – nao foi manifestante. NOVAMENTE não fomos nós. 
ENTENDAM: os manifestantes fazem a RESISTÊNCIA, pois quem abre fogo é a polícia – sejam os fardados, sejam os infiltrados. Corremos para todos os lados. A saída era apenas uma, voltar para a Rua das Laranjeiras. Naquela direção, desciam do viaduto do Túnel Santa Bárbara policiais do Choque armados mirando na população. O intuito nunca foi dispersar, mas nos alvejar. Corremos como quem corre por suas vidas, queríamos estar longe do cerco, buscávamos rotas de fuga – em vão, estávamos cercados por absolutamente TODOS os lados.

Corríamos e quanto mais corríamos, mais éramos alvejados. Helicópteros nos perseguiam apenas para informar nossas posições às tropas de choque. Qual não foi o susto quando vimos caminhões do choque, canhões d’água, pick ups e caveirões todos com grupos de cerca de 5 a 6 policiais todos ARMADOS e atirando aleatoriamente balas de borracha em manifestantes que FUGIAM. Neste momento já estávamos convencidos de que não conseguiríamos fazer a resistência, apenas queríamos estar seguros e sobreviver ao massacre, não sabiamos o que nos esperava. Mas a Polícia, a mando de Cabral, não estava interessada em nos dispersar, estava interessada em nos PUNIR. Nós, os manifestantes, estávamos atrapalhando a grande festa católica, estávamos causando incômodos à papaFolia, tínhamos que ser punidos por isso. 

Corremos! Chegando à Praça São Salvador pensamos que ali teríamos algum sossego por conta dos bares, restaurantes e edifícios residenciais – tolos! A PMERJ não poupa ninguém e veio com seus caminhões lotados atirando nos manifestantes. Alguns não conseguiram desviar e foram acertados não com uma bala de borracha, mas cinco, seis, SETE tiros. Costas, pernas, rosto – nao interessa, o que interessava era machucar. O que interessava era nos amedrontar, nos acuar.
Busquei abrigo com duas meninas que estavam comigo, uma já conhecida e a outra não. Fomos à casa de uma amiga minha que mora ali perto com a companheira. Recebemos água, cuidados, pudemos relaxar. Enquanto estávamos na casa delas ouvimos gritos. Fui à janela querendo ver o que se passava. Eram moradores de outros apartamentos gritando à polícia COVARDES! FASCISTAS! COVARDES! ABAIXO A POLÍCIA MILITAR!!! E a polícia passava em comboio de três, quatro veículos lotados de policiais em posição de guerra.

Apanhamos, mas NÃO PARAMOS. Acalmado o clima na região, voltei à rua. Uma das meninas seguiu à sua casa, a outra pegou o metrô, que estava fechando. Rumei às escadas da igreja do Largo do Machado, aonde o ato seguia. Ali também bombas e balas de borracha nos manifestantes, mas ao lado da igreja. Parecia que a igreja fornecia algum tipo de imunidade aos manifestantes. Seguiam gritando MEU CORPO É LAICO nas escadas e outras palavras de ordem. 
Me aproximei, tinha medo, pois a praça estava CERCADA. Não havia rota de fuga possível, o Batalhão de Choque da PM estava em TODAS as direções.

- Oi. Como tão as coisas aí?
- Tamos resistindo. Já deu merda.
- Eu vi.. Cara, todos meus amigos foram embora..
- Fica com a gente.
- De jeito nenhum. Vou embora, to cagando de medo.

Era eu, amendrotada, a perseguição policial havia surtido efeito. Falei ao telefone com duas amigas, uma me incentivava a ir embora, a outra me dava informações sobre as prisões da mídia ninja. E quem me incentivava a ir embora era uma amiga assustadoramente corajosa – percebi que se ela tinha medo era justificável meu medo e me acalmei. Senti que deveria resistir. 
Por sorte encontrei outras duas amigas que também resistiam. Resolvemos ficar. Veio a notícia da terceira mídia ninja sendo presa 

- Acompanha a pós-tv. Se TODAS saírem do ar me avisa, que vai ser a hora de cair fora.

Mas o ato resolveu ir a 9DP reivindicar a liberação dos presos políticos – tanto da mídia ninja quanto dos outros 6 que ali estavam detidos injustamente. 
Tomamos a Bento Lisboa com gritos de ordem “Vem! Vem! Vem pra rua vem, O ESTADO É LAICO” e “OOOO CABRAL É DITADOR!” e o grito mais forte “EI CABRAL, CADE O AMARILDO?”.

Na frente da delegacia a multidão estava em polvorosa pela soltura dos presos. O procedimento levaria horas e apenas no dia seguinte o último preso político foi liberado com Habeas Corpus impetrado pelo Instituto de Defensores de Direitos Humanos.

Nessa noite havia policiais armados de fuzis, policiais segurando cachorros, policiais em cima de cavalo, canhões d’água, caveirões. Nessa noite Sérgio Cabral nos demonstrava sua força, seu potencial bélico. Nos demonstrava que é capaz de nos caçar como animais. Nós, o mesmo povo a quem a polícia deveria servir e proteger, éramos caçados como feras selvagens. 

Somos feras, sim. SOMOS BESTIAIS E NÃO VAMOS RECUAR. Vamos seguir incomodando, vamos seguir lutando, vamos seguir nas ruas. Os incomodados que renunciem ao poder. 

O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO!!! VAMOS ÀS RUAS!!!



Paredão de Policiais X Paredão de Manifestantes

A tropa de Choque da PMERJ caçando manifestantes como animais

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