segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Quanto custa ou é por quilo?

Dia 19 de janeiro. Tenho um trabalho pra entregar dia 21 é uma dissertação pra concluir (antes disso, pra começar) e entregar antes de abril. Regime semi-aberto em prisão domiciliar para estudos.
Passei o dia em casa estudando, lendo, fazendo fichamento, buscando relaxar nos intervalos. Desci as 21:45 pro mercado, que fica na mesma galeria que meu prédio, o mercado fecha às 22:00. Eu queria comprar uma pizza pra comer quando desse fome. 

Escolhi a menos ruim - não têm vendido mais a marca que eu gosto - e fui pra fila de caixa exclusivo pra cinco itens. Tinha mais três pessoas na minha frente. Atrás de mim chega uma senhorinha bem idosa, com um saco de arroz e um de feijão na mão, perguntando se a fila tava muito longa, eu disse que não. Ela vê a fila ao lado, a caixa está dando o troco pra um rapaz e atras dele, a próxima pessoa é uma moça, que tem por volta dos 36, 40 anos. Jovem. A senhorinha pergunta se pode passar, a moça, que tem o carrinho cheio, faz que não ouviu. A senhorinha passa pra fila seguinte, que tem cerca de 3 ou 4 pessoas também, todos idosos. O caixa em que a moça de seus trinta e tantos anos estava era preferencial pra idosos, eu vou até a moça e falo pra ela em tom tranquilo: esse caixa é preferencial - aponto a placa - e essa senhora só tem dois itens e parece bem cansada, será que ela pode passar? A moça fica brava, mas parece sem jeito de dizer que não e deixa. Enquanto eu vou buscar a senhorinha, que a essa altura estava escorada na pilastra da fila seguinte, ela pergunta pra funcionária do caixa se a fila 2 é preferencial, vira-se pra mim e diz: tá vendo? Ela disse que essa fila aqui não é preferencial, só a três, mas eu vou deixar passar pq não tenho nada a ver com isso. Eu agradeço e volto pra minha fila, a 1. 
Uma senhora da minha frente contesta baixo comigo: a 2 é preferencial, sim. Sempre foi, eu venho sempre aqui. Eu consinto, também sei que é. 
Chega um cara grande, forte, sem camisa e com cara de mau humorado, também com cerca de quarenta anos, pra se juntar à moça dos trinta e tantos. Vejo que cochicham algo e ele me olha bravo. Ignoro, nem olho de volta. Mas penso em saber se eu estava certa ou errada em apontar o caixa 2 como preferencial e procuro a gerente do mercado pra saber qual caixa é preferencial:
- O 2 e o 3.
- Olha, acho que seria bom conversar com a funcionária sobre isso, porque acho que ela não tá sabendo e a placa realmente é confusa. Uma senhorinha tentou passar ali, tinha uma moça jovem e a caixa disse que não era preferencial.
- Ah, claro, vamos ali conversar com ela então. 
Fomos. O casal terminava de passar as compras deles. Quando a gerente se aproxima e fala com a funcionária do caixa, a moça que comprava se vira pra mim irritada:
- Você ainda tá nessa? Já deixei passar, ela já foi embora. Que saco!
- Olha, não é com você. Você, por acaso deixou, mas a funcionaria passou a informação errada porque não parece saber.
- Que saco, pq vc não cuida da sua vida, hein? Já foi, já passou! Ela respondeu bem mais irritada.
- Já falei que não foi com voce. E você, ainda que tivesse numa fila normal, ainda quase recusou que uma senhora passasse na frente, o mínimo que se espera quando se chega a uma idade como a dela deve ser respeito.
- AH QUER SABER??? VAI TOMAR NO CU!!! - gritou a mulher, ao que o acompanhante dela gritou também que eu fosse tomar no cu
- Vou, sim, porque eu gosto bastante. - respondi calma - e acho que vocês deviam experimentar também pq é muito bom. Ainda por cima acalma e vocês parecem precisar se acalmar. 
- AHHH VÁ PRO INFERNO!!
- Que inferno o que? inferno deve ser a sua vida pra você estar criando essa confusão por causa de uma parada tao pequena dessa! - e fui andando embora, mas ouvi o cara pra mulher falando que ela tinha logo que virar a mão em mim que eu parava de graça, me enfiar logo a porrada. 
A mulher respondeu que não faria isso, pq ainda por cima ia acabar em polícia e ele ficou instigando. O mercado inteiro já olhava e eu estava virada de volta pra eles, pois não queria ser surpreendida com um puxão de cabelo ou um soco na nuca do nada e quis mostrar que eu estava atenta:
- Claro que daria polícia. Tá maluco?Acha o que? Que eu tenho medo? Sai fora! - O cara se virou crescendo na minha direção:
- Se liga que se não te encho de facada!!
- Ah me enche de facada? - o cara era realmente muito grande - E você é machão assim só com mulher pequena ou sabe ser machão com homem grande também? - ele veio correndo na minha direção, eu fiquei encarando morrendo de medo, claro.
- VAI, CHAMA SEU MARIDO QUE EU ACABO COM ELE!! - continuei encarando e falei firme:
- E eu lá tenho cara de mulher que precisa de marido pra me defender? - me voltei pros seguranças do mercado e falei - Olha, esse cara tá aqui me ameaçando publicamente de me esfaquear. E aí? (Pq se fosse uma criança negra pequena roubando algo do mercado, os caras davam logo uma chave de braço e chamavam a polícia, mas como era um homem grande, forte, sem camisa e provavelmente perigoso ameaçando uma mulher, os caras tavam inertes)
Até que um segurança, sem uniforme, se levantou do banco em que estava sentado e gritou grosso:
- Aqui dentro da loja não vai ter confusão nenhuma não. E se você insistir muito, vou te levar la pra fora e acabar com a sua raça - e levantou a camisa pra mostrar que tava armado. 
O cara encarou, saiu do mercado, chamou esse pra fora, ele ia. Eu segurei e falei baixo que eu era advogada e que se ele fosse eu ia ter que ir junto e que não valia a pena estragar a noite e sabe-se lá, a vida, por causa de um merda daqueles. 
O casal porradeiro foi embora xingando. A mulher quieta, o homem gritando que era o cachorrão e que todo mundo conhecia ele, o mercado parado olhava estarrecido, as pessoas do lado de fora idem. Eu entrei na minha portaria, que é a 5 passos de distância da saída do mercado, aonde tudo aconteceu, expliquei pro porteiro é pra quem tava dentro o que tinha acontecido.

E o ~Cachorrão~ instigou a esposa/companheira a me enfiar a porrada, ameaçou me esfaquear e se sujeitou a tomar um tiro por causa de: um saco de arroz e um saco de feijão. Qual é o preço que tem a vida das pessoas?