segunda-feira, 4 de julho de 2016

Turismo Sexual e Olimpíadas: Quebrando Tabus V

 "A prostituição naturaliza a apropriação da mulher pelo homem, porque ele PAGA pra ter a mulher" (abolicionistas da prostituição)

Vamos falar sobre naturalização da apropriação da mulher pelo homem? O casamento é quase uma escritura de compra e venda, em que a mulher passa da ~propriedade do pai e vira ~propriedade do marido (tanto que até pouquíssimo tempo atrás quando casava obrigatoriamente a mulher tirava nome do pai e botava do marido ou mantinha o do pai, mas incluía o do marido no final).

Dentro do raciocínio de que os contratos que se faz "naturalizam" a apropriação da mulher pelo homem, então se o cara quer reconhecer publicamente a mulher a """adquire"" pelo casamento, se não quer a ""adquire"" pagando por ela, com a prostituição.

Mas não é só nesses dois casos que o homem cis se apropria do corpo da mulher. Se ele não quer ou não pode reconhecer ela publicamente, não quer ou não pode pagar "por" ela, o cara faz o que pra se apropriar do corpo de uma mulher? Estupra ela. A cultura de estupro é justamente a cultura de que os homens são sujeitos e de que as mulheres são objetos à disposição para apropriação masculina.

E o que o casamento, a prostituição e o estupro têm em comum? São homens cis se apropriando de corpos de mulheres para sexo. O problema então seria a heterossexualidade. A heterossexualidade, nesse raciocínio, é que naturaliza a dominação masculina, a apropriação da mulher pelo homem.

As teóricas feministas radicais da década de 80/90 do Canadá (Mackinnon) e dos EUA (Dworkin) falam disso e falam do casamento, não falam só da prostituição e da pornografia, como as brasileiras radfuen leitoras de tumblr. de blogfuen curtem tanto falar. E será pq? Pq tem mtas delas que são bissexuais e heterossexuais e, evidentemente, elas se enxergam tendo agência na relação sexual. Quem não tem agência é sempre a "outra", no caso as coitadas das prostitutas que precisam de salvação. E da-lhe radfuen ao resgate (insira aqui o meme das power ranger rosas)









Daí essas moças da internet dizem que isso é só uma vertente do feminismo radical, o lesbofeminismo separatista (????) e segue a questão: Se é a prostituição que naturaliza a apropriação da mulher pelo homem, o casamento significa o que? E como se insere o estupro nisso tudo? Prostituição é estupro pq consentimento não existe quando é por contrato. Mas o sexo dentro do casamento, o maior contrato de todos, o mais reconhecido na sociedade, que cria mais direitos e deveres - o sexo dentro do casamento é estupro tb?
E volta a questão: se nesse raciocínio a problemática do consentimento na prostituição é que o capitalismo é sobre sobreviver na dominação do capital, pode-se falar em consentimento da mulher no sexo com homem cis, já que o patriarcado é sobre dominação masculina?

Quero deixar marcado: eu sou completamente contra pensar que heterossexualidade é falta de agência, como pensar que prostituição e casamento são falta de agência. Eu tô ligando essas três coisas porque o pensamento radfuen gosta mto de tirar a agência de prostitutas e a possibilidade de consentirem por causa da dominação do capital e são abolicionistas da prostituição porque a prostituição pra elas é ~naturalização da apropriação da mulher pelo homem. Meu ponto é mostrar que esses argumentos e essa linha de raciocínio cabem pra mto mais coisa justamente pra mostrar o perigo nessa assertiva e seus desdobramentos, especialmente porque se fala apenas de uma forma de """apropriação""" e se for pra fazer o debate que seja sem seletividade.


[Publicação original em:  https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206494567393477&set=a.1406844741663.2056952.1548759955&type=3 ]

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