"A
prostituição naturaliza a apropriação da mulher pelo homem, porque ele
PAGA pra ter a mulher" (abolicionistas da prostituição)
Vamos
falar sobre naturalização da apropriação da mulher pelo homem? O
casamento é quase uma escritura de compra e venda, em que a mulher passa
da ~propriedade do pai e vira ~propriedade do marido (tanto que até
pouquíssimo tempo atrás quando casava obrigatoriamente a mulher tirava nome do pai e botava do marido ou mantinha o do pai, mas incluía o do marido no final).
Dentro do raciocínio de que os contratos que se faz "naturalizam" a
apropriação da mulher pelo homem, então se o cara quer reconhecer
publicamente a mulher a """adquire"" pelo casamento, se não quer a
""adquire"" pagando por ela, com a prostituição.
Mas não é só
nesses dois casos que o homem cis se apropria do corpo da mulher. Se ele
não quer ou não pode reconhecer ela publicamente, não quer ou não pode
pagar "por" ela, o cara faz o que pra se apropriar do corpo de uma
mulher? Estupra ela. A cultura de estupro é justamente a cultura de que
os homens são sujeitos e de que as mulheres são objetos à disposição
para apropriação masculina.
E o que o casamento, a
prostituição e o estupro têm em comum? São homens cis se apropriando de
corpos de mulheres para sexo. O problema então seria a
heterossexualidade. A heterossexualidade, nesse raciocínio, é que
naturaliza a dominação masculina, a apropriação da mulher pelo homem.
As teóricas feministas radicais da década de 80/90 do Canadá
(Mackinnon) e dos EUA (Dworkin) falam disso e falam do casamento, não
falam só da prostituição e da pornografia, como as brasileiras radfuen
leitoras de tumblr. de blogfuen curtem tanto falar. E será pq? Pq tem
mtas delas que são bissexuais e heterossexuais e, evidentemente, elas se
enxergam tendo agência na relação sexual. Quem não tem agência é
sempre a "outra", no caso as coitadas das prostitutas que precisam de
salvação. E da-lhe radfuen ao resgate (insira aqui o meme das power
ranger rosas)
Daí essas moças da internet dizem que isso é só
uma vertente do feminismo radical, o lesbofeminismo separatista (????) e
segue a questão: Se é a prostituição que naturaliza a apropriação da
mulher pelo homem, o casamento significa o que? E como se insere o
estupro nisso tudo? Prostituição é estupro pq consentimento não existe
quando é por contrato. Mas o sexo dentro do casamento, o maior contrato
de todos, o mais reconhecido na sociedade, que cria mais direitos e
deveres - o sexo dentro do casamento é estupro tb?
E volta a
questão: se nesse raciocínio a problemática do consentimento na
prostituição é que o capitalismo é sobre sobreviver na dominação do
capital, pode-se falar em consentimento da mulher no sexo com homem cis,
já que o patriarcado é sobre dominação masculina?
Quero deixar
marcado: eu sou completamente contra pensar que heterossexualidade é
falta de agência, como pensar que prostituição e casamento são falta de
agência. Eu tô ligando essas três coisas porque o pensamento radfuen
gosta mto de tirar a agência de prostitutas e a possibilidade de
consentirem por causa da dominação do capital e são abolicionistas da
prostituição porque a prostituição pra elas é ~naturalização da
apropriação da mulher pelo homem. Meu ponto é mostrar que esses
argumentos e essa linha de raciocínio cabem pra mto mais coisa
justamente pra mostrar o perigo nessa assertiva e seus desdobramentos,
especialmente porque se fala apenas de uma forma de """apropriação""" e
se for pra fazer o debate que seja sem seletividade.
[Publicação original em: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206494567393477&set=a.1406844741663.2056952.1548759955&type=3 ]
Nenhum comentário:
Postar um comentário