segunda-feira, 4 de julho de 2016

Turismo Sexual e Olimpíadas: Quebrando Tabus III

[Quebrando Tabus]
Eu jurei perante santa Cher que não ia mais tretar e/ou falar sobre isso na internet, mas como todo juramento se quebra e nenhuma divindade é absoluta:
Segundo a ótica marxista TODO trabalho é exploração, porque se dá na base do capital, da necessidade de trabalhar com salários baixos pra sobreviver. Bancária, advogada, recepcionista, guia turístico, vendedora, garçonete - todas essas mulheres são exploradas pelo capital porque trabalham pra sobreviver. Às vezes unicamente trabalham nessas funções pra pagar as contas e botar comida na mesa. Não é só a prostituição que é exploração por, na cabeça de algumas pessoas, só existir porque as pessoas precisam de dinheiro pra sobreviver. Trabalho no capitalismo é exploração de mão de obra de muitos pra enriquecimento de poucos, pouquíssimos.
Pra quem acredita que numa sociedade utópica, sem exploração do capital e sem misoginia, a prostituição não aconteceria, eu respondo que: numa sociedade utópica o sexo não é tabu. Transar não é tabu. Prestar serviço sexual seria tabu POR QUE? Eu tenho absoluto convencimento de que se o sexo não fosse um tabu e a liberdade sexual não fosse reprimida o trabalho sexual não seria estigmatizado.
Somos contra:
- exploração de mão-de-obra;
- trabalho de crianças e adolescentes: lugar de criança é na escola e/ou brincando;
- a escravização de crianças, adolescentes e de pessoas adultas;
- a precarização da vida;
---> SOMOS CONTRA A FALTA DE ESCOLHA.
Atacar a legalidade da prostituição (seja por criminalizar as prostitutas ou os clientes), atacar a regulamentação da prostituição: isso NÃO RESOLVE o problema da falta de escolha.
O que gera a falta de escolha é a pobreza. O que gera a pobreza é o capitalismo.
Como disse Monique, "Empoderamento [pelo trabalho] no sistema capitalista é nascer milionário ou ganhar na mega sena"

[Publicação original em: https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10206428767028509]

Turismo Sexual e Olimpíadas: Quebrando Tabus II



Sobre o debate promovido pela Marcha das Vadias, Turismo Sexual e Olimpíadas: Quebrando Tabus

Às mulheres que estão sendo extremamente agressivas e vexatórias conosco da organização um lembrete: somos um movimento de mulheres e pessoas trans pela vida de mulheres e pessoas trans. Vocês não conquistam absolutamente nada quando reproduzem as violências que a sociedade patriarcal nos imprime desde nosso nascimento. Estamos na luta. Estamos nas ruas, não só na Marcha das Vadias, mas em todas as manifestações que acontecem em nossas cidades.
Estamos realmente entristecidas e emocionalmente exaustas com todos os ataques que nós e nossas convidadas estamos sofrendo. Estamos consternadas com mulheres que vêm até este evento nos chamar de masculinistas, dizer que estamos em desserviço do feminismo ou qualquer outra alcunha de desprezo. Pois lidamos com desprezo e deslegitimação desde que nos entendemos por gente. Fomos inocentes quando acreditamos que seria possível fazer do que era uma roda de conversa entre amigas e apoiadoras um debate entre diferentes. Mas tivemos notícia de diversas publicações feitas por colegas ou companheiras feministas radicais incitando o ataque a este evento, tanto no ambiente virtual quanto físico, e também às organizadoras da Marcha das Vadias e convidadas à mesa. Ora veja, até criaram uma página nos chamando de movimento masculinista e nos ameaçando com a polícia federal - companheira, que sabemos quem é, este é o mesmo movimento que fez com que a PF há cerca de um mês encerrasse um debate sobre a legalização do aborto na UFMG. Não se alie em atitudes aos conservadores.

Algumas de nós são mulheres que trabalham e enfrentam o machismo diário no ambiente de trabalho; algumas de nós estão na universidade e enfrentam o machismo diário que tenta nos silenciar e diminuir nossa voz lá dentro, com bloqueios ideológicos contra nossa produção feminista, perseguição política pessoal, assédio moral e até sexual. Algumas de nós são heterossexuais e lidam com o machismo no casamento. Algumas de nós são bissexuais e lidam com o machismo quando se relacionam afetiva-sexualmente com homens e com bifobia. ALgumas de nos são lésbicas e enfrentam lesbofobia diariamente em casa, na família, na universidade, nas ruas. Algumas de nós estamos fora dos padrões de estética e lidamos com opressões e desprezos relacionados a isso diariamente, dentre essas a gordofobia desde a infância. Todas nós somos perseguidas, assediadas, agredidas emocional e verbalmente (as vezes até fisicamente) nas ruas por homens cis misóginos e assediadores. Algumas de nós já se envolveram em brigas de rua por reagirem a investidas desrespeitosas. Todas nós estamos na Marcha das Vadias e somos feministas porque entendemos que, além de tudo, este é um espaço e movimento de auto-cura.

 [Publicação original em: https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10206401051695643]

Turismo Sexual e Olimpíadas: Quebrando Tabus II



Sobre o debate promovido pela Marcha das Vadias, Turismo Sexual e Olimpíadas: Quebrando Tabus

Às mulheres que estão sendo extremamente agressivas e vexatórias conosco da organização um lembrete: somos um movimento de mulheres e pessoas trans pela vida de mulheres e pessoas trans. Vocês não conquistam absolutamente nada quando reproduzem as violências que a sociedade patriarcal nos imprime desde nosso nascimento. Estamos na luta. Estamos nas ruas, não só na Marcha das Vadias, mas em todas as manifestações que acontecem em nossas cidades.
Estamos realmente entristecidas e emocionalmente exaustas com todos os ataques que nós e nossas convidadas estamos sofrendo. Estamos consternadas com mulheres que vêm até este evento nos chamar de masculinistas, dizer que estamos em desserviço do feminismo ou qualquer outra alcunha de desprezo. Pois lidamos com desprezo e deslegitimação desde que nos entendemos por gente. Fomos inocentes quando acreditamos que seria possível fazer do que era uma roda de conversa entre amigas e apoiadoras um debate entre diferentes. Mas tivemos notícia de diversas publicações feitas por colegas ou companheiras feministas radicais incitando o ataque a este evento, tanto no ambiente virtual quanto físico, e também às organizadoras da Marcha das Vadias e convidadas à mesa. Ora veja, até criaram uma página nos chamando de movimento masculinista e nos ameaçando com a polícia federal - companheira, que sabemos quem é, este é o mesmo movimento que fez com que a PF há cerca de um mês encerrasse um debate sobre a legalização do aborto na UFMG. Não se alie em atitudes aos conservadores.

Algumas de nós são mulheres que trabalham e enfrentam o machismo diário no ambiente de trabalho; algumas de nós estão na universidade e enfrentam o machismo diário que tenta nos silenciar e diminuir nossa voz lá dentro, com bloqueios ideológicos contra nossa produção feminista, perseguição política pessoal, assédio moral e até sexual. Algumas de nós são heterossexuais e lidam com o machismo no casamento. Algumas de nós são bissexuais e lidam com o machismo quando se relacionam afetiva-sexualmente com homens e com bifobia. ALgumas de nos são lésbicas e enfrentam lesbofobia diariamente em casa, na família, na universidade, nas ruas. Algumas de nós estamos fora dos padrões de estética e lidamos com opressões e desprezos relacionados a isso diariamente, dentre essas a gordofobia desde a infância. Todas nós somos perseguidas, assediadas, agredidas emocional e verbalmente (as vezes até fisicamente) nas ruas por homens cis misóginos e assediadores. Algumas de nós já se envolveram em brigas de rua por reagirem a investidas desrespeitosas. Todas nós estamos na Marcha das Vadias e somos feministas porque entendemos que, além de tudo, este é um espaço e movimento de auto-cura.

 [Publicação original em: https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10206401051695643]

Turismo Sexual e Olimpíadas: Quebrando Tabus I

Sobre o debate promovido pela Marcha das Vadias, Turismo Sexual e Olimpíadas: Quebrando Tabus

Queria só lembrar que enquanto algumas feministas radicais (principalmente as de internet) tão gastando energia pra enfiar a porrada na Marcha das Vadias, nas organizadoras, nas apoiadoras e nas prostitutas que são as protagonistas da luta sobre prostituição, tem macho estuprador na UFRJ, tem macho estuprador na UERJ, na UFF, na UFRRJ. Teve estupro coletivo na Praça Seca, tá tendo estupro coletivo em festa junina de igreja e uma mulher é estuprada - por um homem cis - a cada 11 minutos no Brasil. Uma mulher é vítima de alguma forma de violência a cada 11 segundos. O Brasil é o 7º país do mundo onde homens cis mais cometem feminícidios e o país que mais mata pessoas LGBT do mundo. E não sabemos quantas travestis, mulheres trans, homens trans e pessoas não binárias são estupradas ou assassinadas por dia porque o Estado não reconhece sequer a existência dessas pessoas (assim como vocês também não reconhecem). E não sabemos quantas prostitutas são agredidas, estupradas ou assassinadas porque o Estado não ouve quando elas falam que essas violências todas acontecem diariamente e a sociedade vira as costas porque acha a prostituição um mal a ser eliminado - vcs que perseguem e expõem prostitutas também acham, então vocês também tão aí nesse bolo de quem vira as costas pra elas e as silencia.
VAI TER DEBATE SOBRE REGULAMENTAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO, SIM! E VAMOS OUVIR O QUE DIZEM AS PROSTITUTAS, SIM!
E estamos na luta. Nessa e em todas as outras!


[Publicação original em:  https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10206393556908278]

Orlando: liberdade pra amar ou liberdade pra transar?


 Eu ainda não tinha conseguido falar nada sobre Orlando. Em parte porque me incomoda tanta gente brasileira falando disso e não falando dos assassinatos que temos aqui com a mesma força. Não digo que o que aconteceu lá não me toca, evidente que toca, tenho amigos amados nos EUA (e na Europa) com cujas vidas me preocupo imensamente cada vez que há um ataque a pessoas LGBT e migrantes nesses lugares. Mas também não tinha conseguido falar ainda por outro motivo que entendi na roda de conversa "Turismo sexual e Olimpíadas: Quebrando tabus": a resposta ao que houve em Orlando nao é "toda forma de amor vale a pena", mas todo exercício de sexualidade vale a pena. Toda putaria vale a pena.
Eu não vou pra boate apenas com uma namorada a quem eu ame e não vou pra boate em busca de amores. Eu vou pra boate em busca de extravasar as opressões que me marcam a carne, que me marcam o peito desde que me entendi sapatão. Eu vou pra boate pra fazer pegação. Eu vou pra boate pra juntar meu corpo suado com corpos suados de outras mulheres, pra beijar bocas de outras mulheres que muitas vezes eu nao sei nem o nome. Eu vou pra boate muitas vezes pra dançar apenas. E muitas outras vezes pra fazer putaria e às vezes faço ali mesmo, na pista de dança no cantinho ou no banheiro, muitas outras vezes saio de lá com alguém pra fazer putaria em casa.

Toda forma de exercer a sexualidade vale a pena. Toda forma de putaria vale a pena.

Sexo é CONSENTIMENTO. Que isso fique marcado.

Deixo aqui uma foto de um momento sapatânico putanesco delirante numa festa na CasaNem. Eu sou vadia. Sapatão, feminista e vadia. E tenho a cada dia mais orgulho disso.

Que nossa putaria nunca seja motivo de nossa morte - física, psíquica, emocional e/ou política.

#ocupasapatao









[Publicação original: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206448222274878&set=a.1406844741663.2056952.1548759955&type=3&theater]

Sexualidade: opção ou orientação?

Queria falar brevemente que eu escolheria o mesmo tipo de vida que eu levo (salvo exceções). O que eu não escolheria é viver numa sociedade cis-heteronormativa e gordofóbica de merda. Pq seja lá o que eu sou isso tb é escolha minha e tem mta agência em ser sapatao principalmente. Agência pra caraca. Pq eu acho, desculpa aí, que homem cis até pode ser gente boa, tenho amigos que são, já transei, já zuei, mas eu acho um porre e desinteressantíssimo pra namorar ou ter qq relação afetiva mais aprofundada que não seja pelas vias da amizade (nada contra quem curte, tenho até amigas que curtem). Então ser sapatao tb é escolha minha. E acho um porre discurso de ~eu não escolheria ser gay pq sofro preconceito. Prefiro batalhar contra o preconceito e no meio da estrada curtir a vida, o sexo e o amor com outras mulheres.
E não acho o discurso "eu não escolheria" bom nem pra estratégia nem pra nada.

[Publicação original em: https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10206209920437481 ]

Feminismo Radical 101 críticas

As feministas radicais são contra: heterossexualidade, família, prostituição, pornografia, autoidentificação de gênero.
Entendem que ser mulher é uma categoria de classe, tal qual trabalhador. E que, por isso, as mulheres devem se identificar umas com as outras, com quem são iguais (isso msm, sem recortes de classe, raça, etc) e se unir para derrubar a dominação masculina da qual elas são igualmente alvos: o patriarcado.
A heterossexualidade, pra elas, é a forma em que a dominação masculina se naturaliza. assim como o capitalista tira o trabalho do trabalhador, o homem tira o sexo da mulher. Mulher é ~dominada pelo desejo, o que naturaliza a dominação social.
A família é a forma de privatizar - tornar propriedade privada - a mulher. Assim como a escritura torna a terra propriedade privada, o casamento (outro contrato), torna a mulher propriedade privada do homem.
MASSSSS as feministas radicais no Brasil só falam contra a pornografia, a prostituição e a autoidentificação de gênero. Pautas que também são dos conservadores e dos religiosos. Coincidência ou reverberação de discursos dominantes? Perde popularidade falar mal da heterossexualidade e da família, né?!

Marília Moschkovich Temer anunciou hj um pacote de ações contra estupro e violência contra mulheres que parecia desenhado por uma radfem (as tais "feministas radicais" brasileiras). Entre outras medidas (aumento de grana pra polícia e mais pérolas do tipo), está o agravamento de penas para condenados por estupro.
A semelhança e aliança entre políticas conservadoras e essa corrente do feminismo não é nada nova. Já escrevi sobre isso na internet e em meu Facebook diversas vezes. Me recordo especialmente de um post com um trecho de a carta do Papa Bento XVI repudiando o conceito de gênero e-xa-ta-men-te com os mesmos argumentos das rads.
Historicamente vocês podem procurar ler sobre o episódio apelidado de "Feminist Sex Wars" (guerras feministas do sexo). Na ocasião, militantes como Andréa Dworkin e Catherine McKinnon se aliaram aos Temers da época e de seu país numa situação de pânico moral bem parecida com o que estamos vivendo nos últimos dias. Não é mera coincidência que essas estejam entre as principais autoras referenciadas (ou ainda, eu diria, reverenciadas) entre as radfems brasileiras. Nem que o pacote de Temer pareça ter sido desenhado por elas.
No meio de tudo isso temos o questionamento sobre a categoria mulher, e o papel revolucionário em potencial do conceito de gênero. Não é à toa que é justamente esse o conceito rechaçado pelas rads e pelos conservadores. O conceito exige, para que de fato explique algo, uma reflexão aprofundada sobre as estruturas sociais. Sobre classe, sobre parentesco, sobre cultura, sobre linguagem e, sobretudo, sobre as práticas concretas das pessoas em relação ao gênero - práticas essas que ao mesmo tempo são orientadas por normas sociais e as transformam em uma relação dialética. E, mesmo que as rads se reivindiquem "materialistas", lhes falta é muita história e muita dialética na teoria e na prática. O resultado são essas monstruosidades, aberrações militantes, como o advogada do PSOL que em nome das mulheres é violenta com mulheres (de seu próprio partido, inclusive). Nisso se assemelham aos conservadores.
Em meu doutorado, investigo justamente a recepção do conceito de gênero no Brasil e na Argentina. Ou, como apelidei carinhosamente, a GRANDE TRETA FEMINISTA DA HISTÓRIA. Não é à toa que Judith Butler começa seu Problemas de Gênero (uma obra bastante dialética) com a pergunta: a mulher é o sujeito político do feminismo? E, diferente do que pensam por aí (dá pra entender o por quê, já que o texto é bem difícil), ela conclui que não se trata de superficialmente adicionar identidades e expandir o sistema de gênero, mas sim de subverter as identidades. Tensionar esse sistema até que ele exploda. Nisso ela se parece com Marx (talvez pela boa leitura de Hegel que ambos fazem).
O que a militância T que é capaz de fazer análises estruturais tem feito é justamente isso. Tudo me leva à hipótese de que a travesti é o sujeito revolucionário potencial do século XXI. E ao fato de que a corrente do feminismo radical brasileiro não soma nada (muito pelo contrário, aliás) à nossa luta por uma sociedade sem classes e sem nenhum tipo de opressão e exploração. Só não vê quem se recusa a analisar objetivamente essa questão.
[em tempo, leiam o post da Amanda Palha sobre as ações do movimento T, relação com rads e mais: https://www.facebook.com/amandaemestereo/posts/1713899628863747 ]


<link original do post: https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10206349435845279
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