sexta-feira, 3 de junho de 2016

Cultura de estupro - você não é tão diferente deles se:

Você não é tão diferente deles ou muito melhor do que eles se você:
- olha insistentemente pra mulheres na rua com lascívia;
- nos chama de gostosas, delicia, linda e "te chupava todinha"
- cerca mina na boate até ela cansar de dizer não e te beijar
- chega naquela mina doidona pq reparou que ela tá pegando qualquer um e pode te dar facinho, se ela tiver apagada/desacordada, aí que sarra, toca ou mete mesmo
- cobra um beijo ou qq ~favor sexual de uma mulher em troca de drogas
- quando você tá ficando com uma mina e ela não quer transar vc insiste e não deixa ela sair do quarto, do carro, da casa ou do canto que vcs tavam ficando
- quando você começa a transar ela fala que não quer mais, por qualquer motivo que seja e você força ela a transar até você gozar
- você chega em casa e sua namorada ou esposa não quer transar e você força, porque tá com tesao e quer gozar, as vezes até acorda ela metendo sem vocês terem conversado explicitamente sobre isso e ela ter dito explicitamente que você pode fazer isso
- paga uma bebida pra uma mina e se ela não quer te beijar chama de piranha
- é amigável com uma mina e se ela não quer te pegar ela é uma piranha (ou te botou na ~friendzone)
- assedia casais de mulheres na rua, "que delicia, não tá faltando nada aí?"
- passa a mão na bunda das minas
- puxa o braço ou os cabelos das minas na boate pra chamar atenção
- ri quando seu amigo conta como "comeu aquela piranha" e mostra foto
- não chama de gostosa, mas acha graça quando seu amigo chama, principalmente se forem vários, inclusive se tiverem no carro e a mina a pé
- não ouve quando a gente fala, porque acha que a gente não tem nada de interessante a dizer - ou até acha que tem, mas acha que não é o caso
- não contrata mulher porque se identifica mais com o cara ou pq mulher engravida ou tá grávida
- não promove mulher porque se identifica mais com o cara ou pq mulher engravida ou tá grávida
- não aprova mulher em seleção de mestrado ou doutorado porque se identifica mais com o cara ou pq mulher engravida ou tá grávida
---->>> você não é melhor do que qualquer um daqueles caras, justamente porque o que você faz também é estupro (em alguns dos casos acima) ou porque o que você faz reforça a naturalização e a normalização do que aqueles caras fizeram. Eles não são doentes, eles não são lixos, eles não são monstros. Eles são caras que levaram às últimas consequências o processo de coisas para o qual você colabora com qualquer um dos casos acima e muitos outros mais. Eles são, dentro do que vc considera ser e dentro do que esses comportamentos apontam que seja, eles são MUITO MACHOS.

[Post original: https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10206310314027258 ]

A misoginia do golpe: FORA TEMER!

Primeiramente, FORA TEMER

"Essa é uma mulher que foi colocada na prisão na ditadura e torturada por ser dissidência. Ela é uma mulher muito forte e saudável, que já passou por muita coisa e lembre-se, as eleições no Brasil foram há apenas 18 meses, ela ganhou essas eleições com 54 milhões de votos." (Gleen Greenwald, sobre a Dilma em entrevista à CNN)
A gente não pode descolar a perseguição que Dilma sofre e as críticas que fazem a ela de uma cultura machista, de um bando de macho escroto que não consegue suportar o fato de ter uma mulher na posição institucional de poder que ela ocupa. Uma coisa é falar das políticas de governo dela, outra totalmente diferente e evidente é falar dela como falam. A Dilma é constantemente atacada pelas roupas que veste, pela idade que tem, por não ter marido, é chamada de louca e descontrolada e agora de fraca e sem força pelo discurso que fez na ONU.
Não é a toa que a Veja fez uma matéria com a esposa do Temer logo depois da votação. Uma mulher cis, heterossexual, branca, magra, loira, jovem dentro dos padrões dominantes de estética como contraponto a uma mulher de quase 70 anos (?), que é chamada de gorda, de velha, de sapatao. A Dilma ocupa o cargo mais público possível, de chefe de Estado e a esposa do Temer, que deve ser modelo pras mulheres brasileiras? Ela é "do lar". O debate de que mulheres devem estar no ambiente doméstico e os homens na vida pública (portanto política) é levantado historicamente pelas feministas. Dilma seria atacada e perseguida dessa forma se não fosse mulher? Se não fosse uma mulher "feia, ousada e do público"?
Não tem nada errado em ser "recatada e do lar" (belas somos todas), mas o que a gte não pode perder de vista é que ser recatada e do lar é o espaço que a sociedade quer que ocupemos. Se estamos nas ruas gritando por direitos, se estamos denunciando as violências do Estado, a violência doméstica, os estupros e abusos cotidianos dos quais somos alvo, se estamos no mercado formal ou informal do trabalho e levantamos nossas vozes contra todas as violências simbólicas ou factuais que possamos, então pra eles não somos mulheres que "se deem valor" e podemos, inclusive devemos ser violentadas (pra gente tomar jeito e pra gente se colocar no nosso ~devido lugar~ de submissão).
Mas o nosso valor quem dá somos nós mesmas. Podem chorar e se espernear, nos massacram e violentam todo dia, mas não vamos ficar caladas. Nunca estivemos caladas, nossos gritos serão cada vez mais altos.

#ForaTemer
[Originalmente publicado em: https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10206115946368188 ]

Estupro não é sobre tesão, é sobre dominação!

Na manhã de ontem (25/05) foi divulgado um vídeo de uma mulher após um estupro. O vídeo foi divulgado por um dos estupradores. A menina de 17 anos foi estuprada por 30 homens, que se gabavam disso em suas redes sociais. Certamente não se gabavam (apenas) pela impunidade, mas pela naturalidade/normalidade que o estupro toma em nossa sociedade. Ao olhar desses homens nossos corpos são objetos a serem tomados, possuídos por eles como e quando quiserem. Mas esses 30 homens não são exceções. Esses 30 homens não são doentes. Esses são 30 dos homens que uma sociedade misógina produz. Os homens não são ensinados a nos amar e a nos respeitar, a nos admirar. Os homens admiram homens, querem ser como seus pais, querem ser como seus amigos, como os autores de livros que leem, como os super heróis de quadrinhos que leem, de filmes que assistem. Os homens aprendem a amar, a respeitar e a admirar outros homens, especialmente pela sua dominação, especialmente pelo exercício de poder sobre outros corpos, a quem vão julgar inferiores. Os homens são ensinados a desrespeitar e a odiar mulheres, principalmente quando essas mulheres se recusam a ser dominadas por eles ou a preencher o papel que eles exigem que as mulheres tenham.
Somos objetos sexuais - pq eles aprendem a amar homens e também aprendem a dominar sexualmente nossos corpos. Não quer dizer que eles não possam quebrar isso e agir de forma diferente, mas quer dizer que eles naturalizam e normalizam o estupro porque é esse o lugar que as mulheres têm para eles: pedaços de carne para satisfazer todo desejo e perversidade deles. Estupro não é sobre sexo e tesão. Estupro é sobre violência, é sobre dominação, é sobre constantemente nos lembrar "quem é que manda", quem está no topo da cadeia "alimentar". É para nos lembrar que eles podem tirar nossas vidas a qualquer momento e que sejamos "gratas" por eles não fazerem isso. O estupro é mais do que uma violência sexual contra uma mulher específica, estupro é uma violência simbólica, uma ameaça real a todas as mulheres e a todas as pessoas trans - para que lembremos todas que nossas vidas, nossos corpos, nossa integridade física pertencem a eles, que podem tirá-las quando quiserem.
Estamos todas indignadas, estamos todas entaladas com o estupro coletivo dessa menina em nossas gargantas. Temos o medo marcado em nossas subjetividades. Toda mulher pode ser estuprada, seja rica ou pobre; esteja andando sozinha ou acompanhada na rua; esteja vestindo burca ou shortinho; seja gorda, magra, alta ou baixa; seja de dia, seja de noite; seja qual for sua profissão ou ocupação; onde quer que more, viva, estude, trabalhe; seja qual for o ambiente que frequente. Para nós não há espaço público separado do espaço privado, não estamos seguras sequer em nossas casas, com nossos pais, tios, sobrinhos, avôs, maridos, namorados, filhos, melhores amigos ou companheiros de trabalho: 70% dos estupros ocorrem em casa, por familiares, parentes, amigos ou pessoas conhecidas e próximas.
Não estamos seguras, não estaremos enquanto formos vistas como objetos e os homens como portadores/proprietários de objetos. De que forma, então, podemos conseguir viver o dia a dia no medo e na insegurança? Nos cuidando umas às outras, nos aproximando umas das outras, nos organizando. Seja na luta de sobrevivência diária, seja em movimentos sociais, em manifestações de rua, precisamos estar atentas para cuidar uma das outras, dependemos nós de nós. Se qualquer dia você vir uma mulher ou pessoa trans incomodada com a aproximação de um cara, não vire o rosto, não se afaste, se aproxime, se coloque a disposição dela, se faça presente, vigie. Você pode salvar uma vida.
*Como vc homem podem agir para contribuir em reduzir nosso medo e insegurança? Não nos aborde sem ser convidado. Se estivermos sozinhas na rua, seja uma rua pouco movimentada ou a noite, especialmente aí nao nos aborde. Se estivermos em grupo, pergunte antes se pode conversar conosco. Se vc presenciar uma abordagem que pareça causar desconforto a uma mulher, se faça presente, primeiro a distância, mas se a abordagem for insistente se aproxime e mostre a ela que está atento e disponível a ajudar, caso ela queira. Se ouvir seus amigos ou colegas de trabalho falando de mulheres como objetos, interfira, seja o chato do grupo. Se vir um amigo ou até um desconhecido forçando beijar ou agarrando uma mulher que aparenta não estar consciente ou ter pouca consciência, tire seu amigo, ajude a menina a encontrar os amigos dela ou o caminho de casa. Se você for professor, sugira livros de autoras mulheres, filmes com protagonismo de personagens mulheres, ensine seus alunos a admirar mulheres. E tome sempre muito cuidado para não nos assustar porque temos, sim, medo de vocês. Principalmente se não te conhecemos.

[post original: https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10206308503421994 ]

Por que a prostituta se prostitui?

Pq a prostituta se prostitui?
Pq a faxineira faz faxina?
Pq a advogada advoga?
Pq a vendedora de loja vende roupa?
Pq a representante da avon vende avon?
Pq a professora dá aula?
Pq a gari limpa rua?
Pq a recepcionista trabalha no consultório?
Pq a secretaria trabalha no escritório?
Pq a bancária trabalha pra te vender empréstimo?
Pq a vigia trabalha pra fazer segurança do shopping à noite?
Pq a exploração do capital sobre os corpos de mulheres ganha foco e se torna um problema de todas apenas quando a trabalhadora que reivindica seus direitos enquanto tal tem por parte ou prerrogativa profissional a (re)produção de prazeres em outros corpos e no seu próprio?
Pq a maternidade, o cuidado do lar, dos filhos, dos idosos é visto como um trabalho de menor importância e não remunerado?
Se é fundamento do patriarcado capitalista a propriedade privada sobre a mulher e os filhos, ter na prostituição a fonte de sustento é igual, melhor ou pior do que ter na no casamento (e/ou na herança, na filiação) a fonte de sustento total ou parcial?
Te incomoda mais a prostituta ativista, a mãe de família devota exclusivamente ao lar e ao marido, a filha pensionista do general do exército já falecido ou a filha herdeira de um complexo hoteleiro estadunidense/europeu?
Por que o uso do corpo pra fins sexuais incomoda mais do que o uso do corpo pra todos os trabalhos acima enumerados e incomoda mais do que pra ser modelo, atriz, dançarina ou lutadora de boxe?

[Post original com debate em comentários em: https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10206163273031325 ]