quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Salve a polícia militar e os homens de bem!

Chego ao Centro Cultural da Justiça Federal e me deparo com a cena de 10 crianças negras sentadas no chão tomando dura da polícia. Paro ao lado, escuto e converso com os policiais para saber o que está havendo, qual o fato típico.
- Você viu a reportagem da Globo? A polícia tá instruída a remover todos os menores andando sozinhos no centro pra abrigo.
- Todos?
- Todos.
- Vamos dar uma volta na Cinelândia, então, pra ver quantos menores têm andando sozinhos?
- Não são toooodos. Só os que tão desacompanhados e andando em bando.
- Hmm os negros que estiverem em grupo.
- Negro, branco, qq cor. A senhora tá vendo só negr.. - Ele mesmo se interrompe quando olha pro grupo de crianças.
- To vendo só negro sim. É só pobre. Vc acha coincidência?
- A senhora viu a reportagem da Globo?
- Meu senhor, além de cidadã interessada eu to te perguntando pq sou advogada. E não assisto a Globo, mas conheço a lei. A polícia só pode agir de acordo com a Lei. E a presunção legal é de inocência. E a liberdade é de circulação.
- Não, mas no Centro eles não podem andar não.
- Vc tá me dizendo que crianças negras e pobres que andam em grupo não têm acesso à cidade delas? Não têm direito à cidade? Oficial, isso não está em nenhuma legislação. Se o senhor flagrou algum delito, conduz quem cometeu à DP, mas tem a obrigação de soltar as demais crianças.
- A senhora fala então, com o responsável da operação, que eu só to obedecendo ordens.
Fui e o responsável pela operação, Capitão Ricardo Vidal, do 5ºBPM me ignorou e só avisou que as crianças seriam levadas pra DPCA.
Durante esse diálogo todo, uma multidão de cidadãos "de bem" atrás de mim xingava. A mim. Não à polícia. Que eu só tava ali pq não tinha sido assaltada. Que se eu tava com pena, levasse pra casa. Que tinha espaço no camburão e que eu fosse junto.
Irada, me voltei a eles (homens, todos) e falei que eles não tinham nada a ver com isso, que eu faço o que quiser e ajo como quiser e foda-se o que eles pensam. E saí.
Um cara mais inflamado veio na minha direção me interpelar, um segundo veio me segurar pelo braço. Eu me voltei e mandei me soltar e tirei o braço. Já tava na escada do CCJF e ele veio atrás de mim pra me segurar e continuar me afrontando com violência. Eu mandei ele me largar aos gritos e ele continuou vindo na minha direção até que o segurança do CCJF se colocou entre a gente. O cara? Ficou do lado de fora gritando que eu era piranha e que queria ver eu ser corajosa de mandar ele à merda do lado de fora !- rua.
Um salve aos cidadãos de bem. Um salve à Polícia Militar inconstitucional do Brasil.

**Original em: https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10203068480863455?pnref=story

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