Sobre pessoas oprimidas que também podem ser opressoras, sobre a necessidade de combate aos privilégios na sociedade e de auto-questionamento. Eu fiz esse post num grupo de discussões do qual participo. Um grupo de pessoas LGBT em que está havendo uma onda de reclamação por conta do que quem reclama chama de "politização do grupo" - o que é, na verdade, o combate às opressões.
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Vamos falar de política e de gêneros, de feminismos, de combate às opressões. Abertamente.
A grande maioria de nós vem de famílias conservadoras, cis-heteronormativas, aonde o machismo é perpetuado, reforçado e atualizado. Não bastasse isso, quando somos inseridxs na escola, desde a creche, maternal, essa escola também é conservadora e também reforça todas essas normas em que a cisgeneridade é compulsória (cisnormatividade) e a heterossexualidade é presumida (heteronormatividade) e lá também aprendemos a atualizar o machismo, o racismo, o preconceito de classe, de origem, de corpos não-normativos.
Não pensem que isso é ser DESpolitizado. Não é. É ser politicamente alinhado à supremacia branca, à hegemonia cishetero e à dominação masculina.
A grande maioria de nós vem de famílias conservadoras, cis-heteronormativas, aonde o machismo é perpetuado, reforçado e atualizado. Não bastasse isso, quando somos inseridxs na escola, desde a creche, maternal, essa escola também é conservadora e também reforça todas essas normas em que a cisgeneridade é compulsória (cisnormatividade) e a heterossexualidade é presumida (heteronormatividade) e lá também aprendemos a atualizar o machismo, o racismo, o preconceito de classe, de origem, de corpos não-normativos.
Não pensem que isso é ser DESpolitizado. Não é. É ser politicamente alinhado à supremacia branca, à hegemonia cishetero e à dominação masculina.
Todas essas ideologias vêm sendo produzidas, reforçadas e atualizadas há séculos e com muito derramamento de sangue - vide as bruxas queimadas na inquisição, os povos assassinados pelas cruzadas, a escravização dos povos do continente africano, os brutais assassinatos de pessoas trans e de pessoas não-heterossexuais. Mas essas são as formas fáceis de apontar a dominação dessa ideologia dominante. A dominação também vem no discurso de ~humor~, também vem na mídia, nas propagandas, nos outdoores em que sempre vemos: pessoas felizes brancas, cis, heterossexuais, magras e sem deficiência física.
Isso que aprendemos em casa, nas escolas, na universidade, no dia a dia brincando no play, na televisão, nas revistas, nos jornais, na novela, no "sexo e as nêga": isso TUDO é POLÍTICA de dominação e normatividade.
- Quem domina? Homens, cisgêneros (nasceu com pênis, foi assinalado ao nascimento como homem e se identifica como homem), brancos, heterossexuais, ocidentais, cristãos e detentores de propriedade.
- Quem é dominadx? Quem deixa de ter qualquer uma das características acima.
- Quem é dominadx? Quem deixa de ter qualquer uma das características acima.
Tendo isso em mente, um homem cisgênero branco gay (que é a maioria das pessoas que está reclamando da politização dos debates) é alvo de dominação por não ser heterossexual, mas é potencial dominador/explorador/opressor a todas as pessoas que são negras, às mulheres, às pessoas trans, às pessoas que não são de cultura com marco ocidental, etc.
Nosso histórico fala por nós. Por sermos fruto dessa sociedade, todxs reproduzimos machismo, racismo, transfobia, homofobia. E para nós não estarmos do lado dominador das equações, o combate a essas opressões tem que ser diário. E não tô falando de parar o policial na rua quando ele tiver abordando um negro e meter o dedo na cara dele (apesar de achar que isso tb é nosso papel), to falando de combater diariamente os preconceitos que alimentamos dentro de nós mesmxs. É um exercício de auto-questionamento, auto-avaliação e atualização de si.
Como fazer isso, já que a sociedade escrotamente nos moldou? Ouvindo as mulheres falando sobre machismo, ouvindo as pessoas trans falando sobre transfobia, ouvindo as pessoas negras falando sobre racismo. Pode ser lendo blogs escritos por essas pessoas sobre esses assuntos, pode ser lendo livros de autoras negras, por ex, sobre feminismo negro, pode ser participando de rodas de conversa, mesas de debate e pode até ser PERGUNTANDO e pedindo explicação pelo facebook a pessoas que a gente veja que já tenham alguma inserção nesses debates. E uma pergunta não é uma acusação de grosseria, uma pergunta não é uma cobrança de explicação/convencimento, uma pergunta não pode ser uma pedra atirada que espera uma resposta em pétalas de rosas. Uma pergunta deve ser educada, deve ser gentil e deve se contentar com a(s) resposta(s) que a(s) pessoa(s) que vivencia aquilo sobre o que perguntamos fala. Quando vc pergunta algo e responde "Não me convenceu", vc está exigindo que a pessoa traga mais argumentos e está sendo arrogante porque está pressupondo que aquela pessoa QUER te convencer. Quando não quer. A pessoa tá te fazendo a gentileza de responder uma pergunta. Não se deu por convencidx? Peça a indicação de um blog, de um vídeo, de um artigo, peça a indicação de aonde vc pode ir para participar de uma roda de conversa sobre o tema.
Rodas de conversa, mesas de debate, palestras, seminários são a minha preferência de formação. Ultimamente eu ando muito afetada pelo racismo que vejo nos movimentos de esquerda - e até mesmo nos feminismos - e por isso tenho procurado me aproximar do debate que fazem as mulheres negras e as feministas negras. Como eu faço essa aproximação? Bem, eu conheço algumas mulheres negras feministas e pedi/peço a elas sempre que me indiquem autoras ou pergunto se têm artigos a me recomendar. Fico atenta às rodas de conversa - semana passada mesmo eu estive no Cine-Clube do Coletivo de Mulheres da UFRJ que o tema foi mulheres lésbicas e negras e ontem (dia 26) eu estive na roda de conversa sobre feminismo negro no Brasil, construída pelo Coletivo Olga Benário. E quando eu estou nesses espaços, eu sou atenta ao que ouço, eu coloco minhas dúvidas e, ao final, eu me aproximo das pessoas de cuja fala eu gostei e peço mais referências.
Dá trabalho? Claro que dá. Ontem, por exemplo, choveu e foi uó chegar na PV. Mas eu não quero ser mais uma mulher feminista branca racista, eu quero estar efetivamente ao lado das mulheres que estão ao meu lado na luta contra uma sociedade de desigualdades, eu quero desconstruir meu próprio racismo, eu quero combater o racismo na sociedade, porque entendo que TEMOS QUE SER TRATADAS DE FORMA IGUAL pelo simples fato de sermos todas humanas.
Dá trabalho? Claro que dá. Ontem, por exemplo, choveu e foi uó chegar na PV. Mas eu não quero ser mais uma mulher feminista branca racista, eu quero estar efetivamente ao lado das mulheres que estão ao meu lado na luta contra uma sociedade de desigualdades, eu quero desconstruir meu próprio racismo, eu quero combater o racismo na sociedade, porque entendo que TEMOS QUE SER TRATADAS DE FORMA IGUAL pelo simples fato de sermos todas humanas.
E é assim que uma pessoa que quer uma sociedade melhor para si age: buscando entender porque a sociedade não é boa para as pessoas a volta dela e buscando uma sociedade melhor para todas e todos. Queremos amor? Sim, queremos amor. Somos amorosxs. Queremos zuera? Sim, queremos zuera. Somos zuerxs. Mas eu não quero uma zoeira que seja ok pra mim, mas que massacre minhas companheiras negras ou que esculache meus companheiros viados afeminados, eu não quero uma zoeira e nem um amor que para acontecer precise reforçar práticas que há séculos vêm derramando sangue. Pq não falar de um assunto é deixar que ele se perpetue e eu não quero que haja perpetuação de racismo, de machismo, de transfobia, de preconceito de classe e de imperialismo.
E você, que tipo de amor você quer?
PS: O post é gigante. Quem leu, desculpe, cês me conhecem, eu falo demais. É tão gigante que nem eu quis revisar.
Nossa, acabei de descobrir seu espaço e adorei! Continuee!!! :D
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