domingo, 24 de agosto de 2014

Denúncia de agressão machista na Faculdade Nacional de Direito da UFRJ


Meu post foi denunciado e removido pelo facebook o que me levou a ficar 24 horas bloqueada e impossibilitada de publicar/curtir/comentar qualquer coisa na rede social. Na imagem abaixo pode-se ver a que nível chega um machista pra esconder as besteiras que faz. Pensei se deveria publicar novamente o relato, por conta do excessivo estresse que isso está me causando. Estou sendo escrachada em duas publicações do grupo ABERTO E PÚBLICO da UFRJ - Faculdade Nacional de Direito. Mais de 350 curtidas de pessoas se comportando de forma machista, reacionária, homofóbica e transfóbica. Os comentários são chocantes. Separei alguns que pessoas amigas e aliadas me enviaram para colocar aqui. Cheguei a conclusão de que deveria, SIM!, republicar o relato, pois a minha voz enquanto mulher, enquanto feminista, enquanto ativista e acadêmica não pode ser abafada. 

Pedido feito no grupo da FND

Ter sido derrubada e estar sendo alvo de escracho público são fatos que falam por si sobre a necessidade de levar as pautas do feminismo interseccional para dentro dos muros das universidades.

A questão que segue é um exemplo do que se passa na FND, mas não é a única. Esses comportamentos são reiterados e vêm de todos os lados, tanto entre alunos, quanto entre professores, inclusive no tratamento de professores com professoras e com o corpo administrativo e de apoio.

A situação é grave e publicizo novamente para que se torne notório o que se passa naquela universidade - e estou certa que em muitas outras pelo Brasil a fora.
Se clicarem no link, vai abrir a postagem do blog, aonde se pode ver: nome de agressores machistas da situação narrada, bem com fotos das conversas que comprovam TODAS as alegações. É uma publicação longa, pois vem acompanhadas de provas.
Rol de provas:
- Publicação de bundas de mulheres no grupo da FND;
- Ofensa pessoal do autor do tópico das bundas de mulheres a uma aluna da FND;
- Protestos de mulheres e homens pela exclusão do tópico;
- Diálogos entre o Tomaz e o autor do tópico antes de bani-lo
- Exposição do Tomaz pela manutenção do tópico de bundas de mulheres
- Minhas publicações-protesto e a do Bassi
- Linchamento moral promovido pelo Tomaz no grupo da FND, ao qual tive apenas acesso por compartilhamento de pessoas amigas, já que fui banida do grupo e não posso visualizar o que se passa ali.



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 Fui banida do grupo da UFRJ - Faculdade Nacional de Direito. Um grupo aberto e público, com mais de 5.000 (cinco mil) membros.
Fui banida porque fiz publicações de objetificação de corpos de homens. Por que eu fiz essas fotos? Senta que lá vem história.

Fui aluna da graduação da FND e atualmente sou aluna do mestrado de Direitos Humanos, Socieidade e Arte, bem como pesquisadora do Laboratório de Direitos Humanos da UFRJ. Abertamente não-heterossexual e ativista feminista, sempre fiz publicações naquele grupo para fomentar o debate sobre gêneros, sexualidades, linguagem, identidades e Direitos Humanos, sob a luz da Teoria Crítica dos Direitos Humanos. Meu ativismo naquele grupo também sempre foi de combater o machismo, o racismo, a lesbofobia, bifobia, transfobia e homofobia em várias publicações. Por diversas vezes usei horas do meu tempo debatendo com alunos e alunas de qualquer gênero e orientação sexual. Como mestranda, tenho obrigação de cumprir estágio docência e o fiz em duas disciplinas (Direito e Sociedade, com a professora Cecilia Caballero e Direitos Humanos com a professora Vanessa Batista Berner, que também é minha orientadora). Em ambas as turmas, meus debates foram sobre gêneros e sexualidades. O tema da minha dissertação de mestrado é o papel do Estado no reconhecimento social das pessoas transgêneras e abordo gênero pela Teoria Queer.

Sou também ativista feminista e construo alguns movimentos sociais no Rio de Janeiro. Minha vida pessoal é política, ao meu ver, o sexo é político.

Desde que entrei no mestrado, como falei, venho debatendo com as pessoas do grupo da FND sobre feminismo. E SEMPRE fui alvo de chacota, de xingamentos pessoais, que iam de ~feminazi~ a ~sapatão~. Fui perseguida por alunos e fui perseguida pelo Centro Acadêmico Cândido de Oliveira (CACO), gestão Pelo Direito Sempre - pois até dentro do grupo de facebook dessa instituição fui alvo de ofensas pessoais. Nunca conseguiram me desanimar da luta, ao contrário, usei dessas perseguições para procurar mais gás e procurar apoio em movimentos feministas, aonde sempre consegui muito boas trocas. Dentro da UFRJ tenho apoio de alunas, alunos, professoras e de membros do DCE UFRJ Mário Prata, assim como de coletivos como o Nós Não Vamos Pagar Nada - UFRJ. Fora da UFRJ, o apoio vem de diversas pessoas que são feministas e pró-feminismo, de coletivas e coletivos.

Apesar de ter sido alvo de ofensas pessoais reiteradas por diversas vezes, durante meses o único moderador do grupo, Tomaz Moreira nunca tomou atitude alguma. Apenas recentemente, cerca de 7 a 10 dias atrás é que um aluno que me perseguia em toda e cada uma das minhas publicações destilando misoginia, machismo e transfobia (sim, eu sou a "Heloisa dOs travestis" e me orgulho disso), apenas AGORA é que esse indivíduo foi banido do grupo. Nesses meses em que ele me perseguiu, muitas pessoas reclamaram ao moderador, o moderador só o que fez foi contatá-lo e pedir encarecidamente que ele me deixasse em paz. Não tendo deixado, 17 meses de assédio depois, ele foi banido do grupo. O rapaz banido nao foi o único que me perseguiu nesses 17 meses, os outros ainda estão lá.

No dia 20 de agosto, as 02:15 da madrugada, me deparei com uma publicação de bundas de mulheres no grupo da FND. A publicação era intitulada "Rio de Janeiro - RJ. Foto de uma intervenção muuuuito foda" e continha 6 mulheres de costas, de bunda de fora, biquini fio-dental-imaginário. A publicação teve 120 curtidas e mais de 300 comentários e estava no ar desde segunda-feira, dia 18/08, 20:54.

 Nessa publicação, o moderador colocou a seguinte mensagem "Frank, todos já riram. Pode apagar a postagem?" pedido ignorado pelo autor do post, que justificou que gostava muito da foto. O moderador ocultava a foto, que aparecia a cada comentário na time line de todas as pessoas do grupo.


Uma aluna da FND comentou que aquele grupo "testa minha capacidade de sentir vergonha alheia.... sério, que troço machista e tosco". Ao comentar isso, essa aluna foi mencionada pelo autor do post "GOSTEI DE VOCÊ. DEPOIS A GENTE PODIA FAZER UMA FOTO SUA DESSAS AÍ"




Ao ver aquilo, meu sentimento não poderia ser de revolta maior. Comentei na publicação em protesto e exigindo a retirada (outras mulheres homens já haviam feito o mesmo). Fui recebida com deboche, como meus reclames frequentemente são no grupo e respondi: "Se em 24horas esse post não for apagado, isso aqui vai virar guerra". (esse "ultimato foi dado no dia 20/08 as 02:25 da manhã).



Nesse mesmo dia a tarde, o moderador do grupo por diversas vezes e publicamente pediu ao autor que (1) pedisse desculpas à aluna, pois é regra do grupo que nao haja ofensas pessoais (esta é a unica regra expressa do grupo) e (2) que removesse. O autor mantinha a recusa. O moderador mandou-lhe mensagem particular (inbox) reiterando o pedido. Ao obter a recusa e APENAS APÓS OBTER A RECUSA PELA ENÉSIMA VEZ, o moderador baniu o autor do post - mas MANTEVE A PUBLICAÇÃO. Disse que era por motivo de registro, mas todos nós já tinhamos o print-screen, por que é que o moderador nao fazia o mesmo? Esse post só foi apagado depois das 9:30 da manhã do dia 21/08, ou seja, ficou no ar por 2 dias + 12 horas (60 horas no total).






Como eu havia dito que o grupo viraria guerra, exausta de argumentações longas e infrutíferas, contatei grupos feministas de facebook e lancei a primeira publicação: uma foto de um jogador de futebol apenas de cueca, meias e segurando a bola (de futebol)

 Essa publicação foi feita por volta das 09:30 da manhã do dia 21/08. Já era esperado e se seguiu: um número enorme de homens reclamando da foto, bem como algumas mulheres. O moderador viu imediatamente a foto e me acusou de imaturidade, ao que eu respondi com um meme que diz: maturidade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome.

Várias mulheres e homens curtiram a publicação e entenderam o espírito do protesto. Claro, uma quantidade menor do que as pessoas que se incomodaram, afinal estamos falando de um grupo com uma grande quantidade de pessoas machistas e reacionárias.

Por volta de 12:00 publiquei mais uma foto de homem de cueca.


Como o espírito das publicações era protestar contra a objetificação da mulher, mostrando para aqueles homens o que é estar em nosso lugar, sempre que havia reclamações e tentativas de argumentação, eu não os ouvia e não argumentava, mas respondia com memes de deboche - exatamente como eles fazem com as mulheres que tentam argumentar com eles: silenciando e escarnecendo. Esses foram os memes que usei em  comentários:




 Por volta das 19:20, meu amigo 'Thiago Bassi' entrou na onda e publicou uma única foto: 5 homens em pé na praia, bunda de fora, estilo cartão postal e dizia "Pra quem vem de outros estados estudar na FND, segue um cartão postal de Copacabana e suas belezas". Todos homens dessa foto eram brancos, uma aluna perguntou sobre negros e eu logo em seguida publiquei mais uma foto de um homem negro de costas, bunda de fora (estamos aqui para atender pedidos, serviço eficiente é outra coisa ryzos).



Às 20:04 do mesmo dia (21/08), eu e Thiago fomos SUMARIAMENTE banidos. Sem aviso, sem conversa, sem complacência, sem condescendência, sem "pode parar, pfvr". Nenhuma palavra do moderador para nos dar direito a ampla defesa e contraditório (que é o que ele diz que preza na administração do grupo - vale ressaltar que essa administração é feita exclusivamente por ele).

Minhas 3 publicações foram apagadas.
- O Tomaz alega nudez, como estão acima, pode-se ver que são homens de sunga e de cueca, o único com bunda desnuda é o último, então por que os 3 foram apagados?
- O Tomaz alega flood (publicações excessivas e seguidas uma da outra). Uma publicação foi as 09:30 da manhã, a segunda 12:00 e a terceira as 19:30 - foram 3 publicações intervaladas. Pode-se falar em flood?

Minha primeira foto não ficou sequer 12 horas, as outras ficaram menos tempo ainda. A foto publicada pelo Thiago não completou 60 minutos. A diferença entre as nossas fotos e a foto de bunda inicialmente publicada? Na minha e na do Thiago a objetificação era de homens.

Como demonstrado com os prints anteriores, pode-se notar a diferença de tratamento com a publicação das bundas de mulheres e as minhas e do Thiago. Além do tempo excessivamente maior em que ficou no ar a primeira, Tomaz ainda tentou mantê-la "para fins de documentação, porque um membro foi banido", no entanto duas pessoas tinham sido banidas supostamente pelas 4 publicações (3 minhas + 1 do Bassi) e as nossas não eram importantes nem "para fins de documentação"?
Não só isso, mas a grotesca diferença de tratamento dado ao Frank Affonseca, a mim  e ao Thiago. Pode-se ver que houve tentativa de diálogo pela publicação, pedidos clementes e até troca de mensagem particular entre Tomaz e Frank. Comigo? Só um "SDDS MATURIDADE" quando fiz a primeira publicação as 09:30 da manhã. Com o Thiago? Nem uma única palavra foi trocada.


Não bastasse isso, Tomaz promoveu um linchamento moral a mim no grupo da Faculdade, quando pela primeira vez publicizou o banimento meu e do Thiago, através de publicação autônoma - essa publicação recebeu 350 curtidas. Evidente que o moderador, que é membro atuante da atual gestão do Centro Acadêmico, cujas eleições se aproximam, buscou tornar pública sua decisão para agradar seu eleitorado. Que eleitorado é esse? O mesmo a quem as publicações feministas incomodam. ~Coincidência~?





 Eu e Thiago fazíamos aqueles atos em PROTESTO à má administração daquele grupo que obriga a mim e às demais alunas e professoras daquela universidade a lidar com o machismo ROTINEIRO daquele grupo. Os membros do CACO sempre viram essas publicações e até mesmo quando mulheres do CACO se pronunciavam contra elas, não recebiam apoio de seus companheiros de gestão. Já fui parte do Coletivo de Mulheres da UFRJ e, enquanto estava lá, cansei de buscar diálogo e convencer da necessidade daquela instituição, que pretende representar as alunas e os alunos da FND atuar ativamente em casos como os elencados, deixando seu posicionamento claro contra as opressões. Essa atuação é fundamental para que os alunos da Faculdade entendam que opressões ali não será tolerada - seja em espaços virtuais ou físicos.

 Com um Centro Acadêmico omisso, que em tempos de eleição diz que tem Diretório de Mulheres para o combate ao machismo, mas que não atua para manter a Faculdade segura - há agressões a mulheres nos Jogos Jurídicos, nas festas e no grupo de facebook; com professores que destilam machismo em sala de aula; com alunos que cantam músicas machistas em jogos, em festas, que forçam a barra para ficar com mulheres nas festas, não respeitando o NÃO, que nos marcam em publicações e falam que somos bonitas/feias/gostosas/vamosfazerfotosjuntos: não era de se admirar que uma das mulheres que combate essas condutas à exaustão fosse expulsa.

Mas não sou a única. Assim como eu combato, outras mulheres e homens também. Assim como eu sou perseguida, outras mulheres também são. Assim como eu fui banida, outras pessoas que desafiem àquela ordem também serão. Só que não adianta, pois NÃO NOS CALARÃO.

NOSSAS VOZES JAMAIS SERÃO SILENCIADAS!!
MACHISTAS NÃO PASSARÃO!!!



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Esse não foi o primeiro episódio em que houve esse tipo de embate com pessoas da gestão Pelo Direito Sempre do CACO. Também publiquei neste blog o relato dos acontecimentos da I TRANSemana da UFRJ, que se deu em Setembro/2013 e que envolveu mais de 11 pessoas da gestão e ataques diretos a mim, além de um forte cis-sexismo. Por ~coincidência~ o maior opositor naquela história também foi o Tomaz Moreira, como documentado.

E foi depois desse embate que as ofensas machistas, e homo-lesbo-bi-transfóbicas do grupo se intensificaram. Link: http://masissojaehvandalismo.blogspot.com.br/2014/08/caco-e-i-transemana-da-ufrj-setembro.html
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===Nota de edição em 04/09/2014====
Está sendo questionada a não menção nesta publicação da primeira foto que foi publicada no grupo da FND e que teria sido o que impulsionou a publicação feita por Frank Affonseca. A publicação a que fazem referência foi de compartilhamento da performance Macaquinhos, que encontra-se no Museu de Teresina, Piauí.
As fotos podem ser vistas em: http://comoclube.org/home/macaquinhos/dsc_0592/

Eu sequer sabia q essa publicação existia. E quando soube, não me pareceu relevante. Não se rebate o compartilhamento de uma foto de uma performance artística de pessoas nuas (homens e mulheres) com uma foto objetificadora de um grupo político que é considerado menos humano na sociedade. Essa estratégia de argumentação é em busca de mostrar uma simetria que não existe socialmente. Ainda que a foto primeira fosse de homens de bunda de fora, nao seria socialmente o mesmo que colocar uma mulher de bunda de fora. E nao foi o caso. Foi compartilhamento de performance artística X foto playboy. Como falar em simetria de forma honesta? Impossível.

O Tomaz Moreira, administrador do grupo da FND está se arvorando de ter anunciado que era regra do grupo o banimento de fotos de pessoas nuas. Já foi demonstrado o tratamento assimétrico dado às publicações e pessoas que publicaram, segue print-screen das Regras da Comunidade, tirado na ocasião das fotos. Como pode se notar, não há menção de expulsão sumária para publicação de foto com nudez. Note-se também que o administrador é diretor do CACO e o primeiro "Link importante" é a agenda do CACO. Ou seja, é um grupo administrado pelo CACO e é uma questão dos diretores da gestão essa adminsitração - se o Tomaz não os representa, que resolvam entre eles.



Vamos falar de debates honestos?

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