quinta-feira, 2 de julho de 2015

Amores de vidas inteiras

Em tempos de muito ódio circulando, eu quero falar um pouco sobre o amor. Porque eu acho que tá faltando falar do amor. E o amor renova a gente, o amor tira a gente da cama com vontade de viver e de lutar por dias melhores que virão. Eu escrevi um texto sobre o amor faz um tempo. Não sei por que, ainda não publiquei. Talvez estivesse faltando chegar o momento de hoje.

Tava conversando esses dias com uma amiga sobre acreditar no amor que vai durar até o fim da vida. Aquela historia de planejar vida juntes, envelhecer juntes, programar viagens, até mesmo mudanças. Na verdade eu andei falando sobre esse assunto com mais de uma pessoa. Acho que esse tema é recorrente e bem presente nas nossas vidas, muitos papos giram em torno ou tocam nesse assunto.
E essa amiga falou que acredita nisso com uma pessoa muito especial.

Eu falei pra essa amiga que eu acredito e quero isso pra mim, planejar vida, envelhecer junto. Mas que ao mesmo tempo que eu quero isso, eu entendo que sou "vítima do amor romântico" e que, bem, a grande maioria das pessoas também é. E problematizando isso, olhando pra dinâmica das relações sociais e trazendo pra minha vida pessoal ("cada uma sabe a dor e a delícia de ser o que é"), bem, trazendo isso pras minhas experiências de vida, eu quero isso e acho que isso é muito possível. Com amigues.

Eu assisti Grey's Anatomy até a 9a temporada - parei de ver pq haja choradeira! A personagem que dá nome à série tem uma baita amizade com uma mulher que é distante com a grande maioria de pessoas, mas não com a Grey e ambas são heterossexuais, casadas e monogâmicas, mas tratam uma à outra de "my person" ("minha pessoa"). É bem esse conceito da ~metade da laranja~.

Eu posso nomear talvez 2 ou 3 amigues com quem eu hoje acho que vou envelhecer junto. E não são todes amigues de infância. Um é, apesar de não sermos amigues desde a infância. E daí me fez pensar nisso também.. Talvez a falta ou escassez de amigues de infância seja pq a gte cresce e fica diferente. Principalmente quem não é heterossexual e/ou não é cisgênere, quem é feminista, sei lá, quem tem uma vida não-normativa ou quem faz de sua vida pessoal uma prática política. E não necessariamente as pessoas da nossa infância seguem o nosso mesmo caminho, o que pode nos distanciar. Alguns distanciamentos são transponíveis pelo amor - quando há respeito mútuo; mas alguns distanciamentos são.. irreversíveis. Existem diferenças que são inconciliáveis.

Com a construção da identidade na vida jovem e adulta a gente vai topando com pessoas que pensam parecido com a gente, que têm histórias de vida semelhantes, com quem temos convergência política e são essas pessoas com quem a gte acaba construindo e ressignificando nossas próprias identidades (geralmente esse processo é multi-lateral e retroalimentado, então tanto a gte qto as pessoas com as quais a gte se cerca, todes nós vamos mudando e nos acompanhando. Com o passar do tempo, nenhume de nós continua e mesme, o que continua é a vontade de estar juntes, de construir juntes.

Eu gosto de namorar, gosto de me apaixonar, eu gosto de ficar boba. Eu acredito no amor romântico problematizado, politizado e nos acordos que sejam respeitados. Pra mim monogamia ou não-monogamia são opções igualmente boas e negociáveis, cada relacionamento tem suas necessidades e, como diz uma pessoa querida, a gte precisa ter delicadeza pra se relacionar com as pessoas. E se eu quero ter uma relação romântica-afetiva-sexual com alguém até a velhice? Não sei dizer. Mas acho que aquelas pessoas, a quem vou chamar de "amigues de juventude" (no meu caso, pq é a fase de vida mais próxima) são as pessoas com quem a gente vai envelhecer.

Me vejo no futuro jogando xadrez na pracinha e alimentando os pombos - falando mal da vida de alguém, ctz. E se eu pudesse prever com quem seria, minha aposta é de que seria algume dessxs amigues relativamente recentes e tenho certeza de que um dos nossos papos recorrentes seria pegação, pq FATO que vamos ser velhinhes saçariqueires.

Publicado originalmente em: https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10204445554769442

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