Os Jogos
Jurídicos aconteceram nesse feriado de corpus christi e terminaram dia 22/06. E
olha, te falar que eu to PORAQUI com esse assunto. Francamente? Eu não tenho estômago
pra aturar jogos jurídicos e gente de Atlética não. Fico impressionada com quem
tem e com quem consegue ir nessas paradas. Uma amiga falou que não foi, mas que
uma amiga dela foi e disse que, a despeito de todo o bafafá que rolou na UERJ
por causa da imagem do coiote estuprando uma menina da Nacional (Faculdade
Nacional de Direito – FND/UFRJ), NADA MUDOU: continuaram as músicas de machismo
e racismo. Claro que não mudou! São os JOGOS JURÍDICOS. [Os jogos jurídicos, pra quem não sabe, são jogos interuniversitários do Brasil inteiro. Acontecem duas vezes por ano e englobam as faculdades de direito do brasil]
Coiote, o mascote da UERJ, estupra uma garota da Nacional (Faculdade Nacional de Direito - FND/UFRJ) |
A galera da
UFF estendeu essa faixa que ta aí. E pode acreditar que vão falar que foi pra
EXALTAR as mulheres da UFF. "Exaltar", como se a UFF fosse uma escola
formadora de misses e musas dos jogos. E eu aqui pensando que a UFF era uma
universidade. O machismo é estrutural e tão intrincado na nossa sociedade, que
esse tipo de conduta é feita pra "exaltar" e é entendida dessa
maneira, mesmo. O que está aí é mais uma vez a objetificação da mulher, é mais
uma vez colocar a mulher no lugar de "adorno"/objeto de decoração.
Não haveria uma faixa "Os caras da UFF são capas da G Magazine", mas
sim "os caras da UFF são jogadores/brutamontes/guerreiros" -- percebe
a assimetria??
Faixa produzida pela UFF estendida nos jogos"As mulheres da UFF são capas da playboy" |
E não é
falar de ~moralismo~ ser contra esse tipo de coisa não. A Marcha das Vadias, por
exemplo, é um movimento de liberação sexual e autonomia do corpo. O que esses
caras tao dizendo nao é que "mulher tem que ter liberdade pra mostrar o
corpo", mas que "mulher pra ter valor tem que estar dentro dos
padrões de beleza socialmente estabelecidos, que são os que as colocam na capa
da playboy". Não é um discurso empoderador. Ao contrário, é um discurso
objetificador.
E você pode
achar que a gte tem que ocupar aquele espaço e tentar construir ele de forma
diferente. Eu discordo completamente de que tenhamos que estar nesses espaços.
Os jogos jurídicos não são espaços para mulheres, são espaços de homens. Eles
nos querem lá seguindo as regras DELES. Quando a gte vai e paga pra Atlética
levar a gente, a gte tá FINANCIANDO DIRETAMENTE uma estrutura extremamente
opressora. Uma amiga foi sem ônibus. Pagou R$ 250,00 de alojamento (espaço pra montar
barraca) + R$ 160,00 pras 3 festas. Eu vou frequentemente ao ENUDS (Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual) e a congressos de
gênero, aonde pago 40 reais pra alojamento COM almoço E jantar. E as festas são
gratuitas, o que possibilita que qualquer pessoa vá. Vende-se cerveja lá, cada um bebe o q pode pagar. E eu sei
que as festas dos JJ são open bar, mas cobrar 160 reais pras festas significa
dizer: ou vc paga isso ou nao tem acesso ao espaço de recreação, socialização,
confraternização. A gente tem, sim, que pautar o machismo nos Jogos e na
Atlética, mas na nossa casa, na nossa universidade e não indo aos Jogos. Quando
vamos, estamos apoiando e, ao meu ver, reforçando todas aquelas práticas.
Eu sei que
há pessoas que vão pq querem socializar, mas temos TANTOS espaços pra isso. Ao
meu ver, estar nesses espaços "só" pra socializar é uma forma de
"se curvar" a tudo que tá presente ali e que "possibilita"
a socializaçao. Digo.. o que une essas pessoas? A competitividade entre as
universidades. Mas não só isso. Tb os une o machismo, o racismo, a homofobia, a
transfobia, a lesbofobia, a gordofobia. Eu fico mto preocupada MESMO com as
pessoas se "curvarem" a isso ou sentirem q "precisam" se
curvar a isso.
Sabe? Quem
sao as pessoas que tão excluídas dali? As mesmas pessoas que a sociedade exclui
e explora: as negras, as gordas, as lésbicas masculinizadas, os viados
afeminados, as pessoas de baixa renda. É MUITO processo de exclusão!
Não acho que
seja impossível de mudar esse cenário, que os JJ vão ser sempre assim; tb não
acho que o Direito vá ser sempre assim; não acho MESMO. Não acho q nada seja
impossível de mudar, faço militância feminista justamente pq acredito que TUDO
pode mudar. Eu trabalho dentro do Direito com teoria crítica dos direitos
humanos justamente porque eu acredito que o Direito pode ter, SIM!, papel
transformador e emancipador. Mas há que se pensar na forma de atuação pra essas
mudanças e eu to convencidíssima que não é participando dos Jogos, que muito
mais endossa os processos de exclusão do que qualquer outra coisa, ao meu ver.
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