sábado, 21 de dezembro de 2013

Stonewall, pacifismo e o movimento GGGG

Mike Funk é um quadrinista de 20 e poucos anos dos Estados Unidos. Trans-homem, ele conta histórias que abordam as questões LGBT  e compartilha com seus leitores fatos pessoais íntimos. Seu traço é simples e expressivo, o que de certa maneira torna seu trabalho ainda mais intenso.
Ano passado Mike pesquisou várias fontes e desenhou uma história de 16 páginas reconstituindo os famosos tumultos que ocorreram no bar Stonewall em Nova York, ponto de início da luta LGBT por direitos iguais aos héteros. Se bem que, como você vai ver abaixo, a moral da história não é bem essa. Mike deu permissão ao LADO BI para traduzir sua obra e assim ajudar a  diminuir a injustiça que a versão oficial da revolta de Stonewall vem causando. Leia até o fim e descubra os verdadeiros heróis desse momento."

Eu tenho quatro comentários:
1) O movimento gay era um movimento de liberação. Com a epidemia de aids, muitos homens gays se contaminaram e morreram. Tornou-se impossível pra mídia não noticiar a existência desses caras. Mas como deixar ser divulgado que pessoas LGBT existiam? Como manter a farsa de que essa comunidade era mto reduzida, para que as pessoas gays e trans continuassem nos armários hetero e cis? Bom, a saída era higienizar essas pessoas. A mídia começa a veicular a imagem do homem cis branco, gay e rico. E esse homem cis branco, gay e rico é o mais próximo do super-humano, o homem cis, branco, hetero e de alta renda, o sujeito de direito em absoluto, mas ainda não tem direitos como o homem cis hetero. Então ele quer direitos. Ele não quer mais liberação, ele quer ser igual ao homemcisbrancohetero, ele quer ficar no topo da piramide de opressão, que é pra oprimir quem não é homem, quem não é cis e quem não é rico. Hoje o movimento se chama de LGBT, mas é nitidamente o movimento GGGG. Casamento igualitário? Bitch please! Isso só vai acontecer o dia que eu puder casar com quem e quantas pessoas eu quiser.
---> Pq o movimento GGGG conta a história de Stone Wall como sendo protagonizada por homens gays, quando ela foi protagonizada por mulheres e homens trans e por lésbicas caminhoneiras? Relação de poder. Foram as mulheres que iniciaram a Revolução Francesa, tb foram as mulheres que iniciaram a Revolução Russa. CADE ISSO NOS LIVROS DE HISTÓRIA? Poucos divulgam essas histórias - feitos marcantes são protagonizados por homens cisgêneros brancos nos nossos livros - a não ser que sejam revoltas ligadas a raça, daí aparece uma pessoa negra. HOMEM CIS.

2) ERA LEI EM NOVA YORK QUE CADA PESSOA TINHA QUE USAR PELO MENOS 3 PEÇAS DE ROUPA DO GÊNERO REFERENTE AO SEXO QUE LHE FOI ASSINALADO AO NASCIMENTO - pq?? Pq os esvaziados padrões de gênero precisam ser reiterados. E nós temos todas e todos que caber em caixinhas, que é para que o Mercado possa nos dizer quais os produtos que nós queremos e nos vender esses produtos por um preço que eles não valem, a custa de uma ansiedade que eles provocam (quem nao cabe naquelas roupas, quem tem formas corpóreas diferentes, quem prefere se vestir de outra maneira ou apenas nao pode pagar é que se vire). E daí qdo estivermos doentes por causa dessa imposição de padrões, esse mesmo Mercado nos acode vendendo remédios. Lindo.

3) Ativistas GAYS que lutavam pelos direitos (a turma do item 1) foram CONTRA stone wall pq criava bagunça e ~manchava~ a imagem dos gays. E vcs tão aí achando que viado e sapatão não podem se beijar em público e não podem se pegar na parada gay pq ~mancha~ a imagem das beeshas higienistas. E achando que mulher tem que ~se dar o respeito~ e falando mal das vadias. E cês acham ruim ação direta. E cês acham que qdo um maluco anarco bate numa mulher no meio da manifestação, a gte tem q ter calma e deixar rolar pq o inimigo maior é a PM - a mesma PM que  tb bate em mulher, em bicha, travesti, trans, viado e sapatão. SE LIGA, SEU MACHISTA - AMÉRICA LATINA VAI SER TODA FEMINISTA e isso não acontece só na base do diálogo por motivos de: numa sociedade machista o que as mulheres têm a falar não interessa o bastante para que interfiramos nos processos culturais. Não vamos mudar a sociedade só dialogando. Peitos de fora fazem diferença, SIM. Marcha das vadias faz diferença, SIM. Beijaço, Toplessaço, Peitaço, Parada gay fazem diferença, SIM.

4) Sendo assim, sem essa de achar que a história é contada de forma imparcial. A história é contada da forma que seja menos danosa pra quem tá no polo de dominação, pra quem tem o poder hegemônico.
----> Espalhar por aí que pessoas que não são cis, que mulheres, que pessoas negras e que pessoas pobres podem mudar o curso da história é APENAS PERIGOSO. E pq? Pq essa galera apanha todo dia e tá cansada de apanhar. Se todas e todos eles souberem que têm papel de mudança na história passada, esse pessoal tb vai achar que pode fazer no presente e vai querer mudar o futuro. 

We're queer and we're here, baby. DEAL WITH IT (Somos queer/esquisites/anormais e estamos aqui, queride. LIDE COM ISSO) - se tiver dificuldade em nos encarar, vire o rosto e procure um divã.


(o texto inicial e as imagens vêm do site Lado Bi)
















quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Já é natal

HORÁRIO ESPECIAL DE NATAL: LOJAS ABERTAS ATÉ A MEIA-NOITE



                 Em nome do espírito natalino (leia-se consumismo desenfreado de coisas que você não precisa por um preço que elas não vale e pelo qual , muito provavelmente, você não pode pagar) exploraremos a mão-de-obra e força vital de toda sorte de pessoas mal-remuneradas - vendedoras e vendedores de loja, seguranças, faxineiras e faxineiros - dos dias 06 a 23/12 até meia-noite, em favor do seu conforto e comodidade. Que é pra você não ter desculpa pra dar caso não compre um presente de natal que vai servir pra você demonstrar o valor simbólico do seu amor pelas pessoas - ainda que você não as ame, ainda que você não suporte conviver com elas, ou no caso das pessoas que você realmente ama, ainda que você demonstre esse afeto de diversas maneiras com frequência. E te dizemos isso com um sorriso no rosto. Branco.

                 No natal o que importa é que você gaste o dinheiro que não tem para provar algo que não sente - ou que até sente, mas que não se comprova com a aquisição de mercadorias.

                 Taí uma tradição que eu nunca tive, por ter tido uma criação religiosa não-católica e da qual eu nunca vou fazer questão.

Jingle bells, galera.